quarta-feira, 11 de abril de 2012

Chega de sutilezas.

Há vinte anos, quando o Brasil assumiu diante da comunidade internacional que tinha sim, milhões de crianças exploradas no trabalho, foi deflagrada no ano seguinte (1993) uma onda de ações para prevenir e erradicar o trabalho infantil.

O Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho da Criança e de Proteção ao Adolescente Trabalhador – FOCA, do RN, que foi o primeiro no Brasil a ser criado após a assinatura do Programa Internacional Para Eliminação do Trabalho Infantil - IPEC - lançou mão de várias estratégias para mobilizar a sociedade e enfrentar esse grave problema laboral, que apesar de violar os direitos fundamentais do ser humano, era bem aceito por todos. Para aguçar a vista, começamos sutilmente a exibir cenas que levassem as pessoas a descobrir de forma lúdica, em que trabalhavam nossas crianças e que tipo de mal isso lhes causava.


Enquanto todos dormiam, Jardim de Piranhas, um pequeno município do estado, grande produtor de redes de dormir, nos tirava o sono. O UNICEF nos socorreu e criou o projeto Jardim Esperança. Publicamos nosso primeiro cartaz.


Depois disso, nos voltamos para os diversos focos de trabalho infantil existentes e publicamos o cartaz onde é mostrado um cidadão deitado numa rede, esperando os amigos para um brasileiríssimo churrasco.



A pergunta que fazíamos diante da imagem acima era a seguinte:


- Onde está o trabalho infantil?


A resposta era simples. Tudo, absolutamente tudo da cena, era fabricado no Brasil pelas mãos de crianças, conforme foi identificado no Mapa do Trabalho Infantil, elaborado pelos auditores fiscais do trabalho.


Descobrimos, numa segunda edição desse Mapa, que novas atividades haviam sido identificadas como focos do trabalho infantil. No novo cartaz, já foi possível colocarmos sutilmente o trabalho infantil doméstico, através das mãozinhas de uma babá segurando um bebê. A cena escolhida foi a de um Reveillon, com a mesma pergunta:



- Onde está o Trabalho Infantil?


A resposta era bem ampla: na pesca da lagosta, na confecção de pegadores e de caixotes, na fabricação de fogos de artifício, na fabricação de bonés, de camisetas, catadores de latinha, na venda de bebidas alcóolicas, pesca, plantação de hortaliças.


Mais alguns anos de sensibilização, outras atividades descobertas e os velhos e desbotados discursos continuavam resistindo: - É melhor estar trabalhando que na rua roubando! Perdemos a paciência e fomos mais explícitos.


Deixamos de perguntar onde estava o trabalho infantil, tão na cara de todo mundo, e fizemos o terceiro cartaz, com a pergunta incisiva: - Onde está você que não vê o trabalho Infantil? Nesse cartaz, apresentamos uma cena mais ampla, urbana, onde todas as pessoas que trabalham são crianças.


Hoje, com menos paciência ainda, estou fazendo um mapa, onde já não há perguntas, apenas uma exclamação, porque finalmente as crianças trabalhadoras respondem, situadas em vários locais do Mapa:



- Estamos aqui!


Acabaram, pois, a sutileza e a ponderação, porque finalmente, a campanha mundial e nacional para o dia 12 de junho, enfocou a questão mais sensata: O trabalho infantil deve ser proibido, porque viola os direitos humanos e impede a Justiça Social. Pronto! Sem mais delongas.


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