segunda-feira, 19 de março de 2012








Ao ver as fotos antigas de crianças trabalhando nos EUA, há mais de 70 anos atrás, não pude deixar de comparar com a situação atual no Brasil. Por muitos anos essas imagens dos pequenos gazeteiros foram vistas pela sociedade como algo muito positivo e aqui em Natal, víamos nas vias públicas, dezenas de pequenos jornaleiros, quase atropelando os carros, numa disputa pelos clientes. Numa primeira e bem sucedida ação do Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho da criança e de Proteção ao adolescente Trabalhador - FOCA, foi feito um Termo de Ajuste de Conduta com o MPT, com a parceria dos grandes jornais. Em homenagem a esses pequenos "noticiadores", posto o poema abaixo, que me foi enviado pela colega Valderez Monte, nos anos 90.


MANCHETE



Garoto sujo e magro que vende jornal
Vende também esse olhar triste.
Grita, qual fosse um anúncio
Que nunca soubestes ler:
O preço da tua fome,
Da tua orfandade!
Anuncia a manchete da infelicidade
Escrita em teu semblante
E que ninguém quer ver.
Garoto, muda esses gritos de todo dia:
- Matou o marido! O Nordeste em agonia!
Não cansa tua garganta assim
Que és tão pequenino
Para falar de tanta coisa deste mundo
Esquece essa letra de imprensa
Um instante,
Porque ela não gosta de ti
Fica distante da tua retina,
Mesmo quando a pronuncias.
Garoto amarelo e sujo, manchete nova!
Grita, infeliz, a tua dor!
E põe à prova
Que a manchete maior
É a que nunca anuncias.


(Autor desconhecido)

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